Pandemia eleva previsão de deficit em 607%

A covid-19 vai deixar marcas profundas no Orçamento Geral da União de 2020. De acordo com a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, as medidas de enfrentamento à pandemia e a queda expressiva na arrecadação devem fazer o rombo nas contas do governo central bater os R$ 877,8 bilhões — o equivalente a 12,7% do produto interno bruto (PIB). A cifra é 607,3% maior do que os R$ 124,1 bilhões de deficit previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA).

 

Até março, antes da expansão acelerada da pandemia, o deficit primário da União foi praticamente nulo. Mas subiu para R$ 93 bilhões, em abril, e para R$ 126,6 bilhões, em maio. De acordo com a IFI, o país deve amargar sucessivos rombos próximos de R$ 95 bilhões mensais até o fim do ano.

 

As medidas provisórias que abrem crédito extraordinário para o combate ao coronavírus somam R$ 509,6 bilhões. Mas a IFI projeta um gasto ainda maior (R$ 601,3 bilhões) porque considera que algumas ações desenvolvidas pelo Poder Executivo podem se estender por um prazo superior ao previsto inicialmente. É o caso do auxílio emergencial de R$ 600 pago aos brasileiros mais vulneráveis, que em julho foi prorrogado por mais dois meses.

 

Como as MPs só cancelam despesas relativas a R$ 172,6 bilhões no Orçamento em vigor, o Palácio do Planalto precisa recorrer ao Tesouro Nacional para executar a diferença — seja por meio da emissão de títulos ou de saques na Conta Única. O impacto na dívida pública é severo: ela deve saltar para R$ 6,6 trilhões em 2020 — o equivalente a 96,1% do PIB. No fim de 2019, ela correspondia a 75,8% do PIB.

 

A Constituição prevê três situações em que a União pode pedir dinheiro emprestado ao Tesouro para atender “despesas urgentes e imprevisíveis”: guerra, comoção interna ou calamidade pública. É nesse último cenário que se enquadra o enfrentamento à covid-19. De acordo com o texto constitucional, os recursos autorizados por meio de créditos extraordinários não precisam ser computados no teto de gastos, que em 2020 foi fixado em R$ 1,4 trilhão.

 

— Por conta da calamidade, o governo tem se valido do instrumento dos créditos extraordinários, que não estão sujeitos ao teto de gastos, por ser uma calamidade reconhecida pelo Congresso. Esse é um instrumento adequado e permitido pela regra do teto. Para 2020, a gente tem uma possibilidade de gastar mais, possibilidade de se financiar por meio da dívida, considerando, claro, a gestão que tem que ser feita e os limites do financiamento — explica o economista Daniel Veloso Couri, diretor da IFI.

 

O “drible” no teto de gastos é apenas uma das estratégias orçamentárias adotadas pelo governo para destravar recursos para o enfrentamento da pandemia. O Congresso aprovou em março o Decreto Legislativo 6, de 2020, que reconhece o estado de calamidade pública no Brasil. Com isso, o Poder Executivo fica dispensado de atingir a meta fiscal prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (Lei 13.898, de 2019).

 

Em outra frente, o Congresso promulgou em maio a Emenda Constitucional 106, de 2020, que prevê um “regime extraordinário fiscal” para o combate à doença. Conhecido como orçamento de guerra, o texto suspende a aplicação da chamada regra de ouro das contas públicas. Isso significa que o governo pode se endividar para pagar despesas correntes, como salários, aposentadorias e custeio da máquina. Antes da pandemia, isso seria considerado crime de responsabilidade.

 

— A emenda separa do Orçamento da União os gastos para o combate à pandemia. Em função da gravidade da crise gerada pela covid-19 e de uma aguardada queda na arrecadação, é razoável esperar que os entes públicos tenham de recorrer a operações financeiras. Isso, aliás, já vinha ocorrendo, sendo o Congresso chamado a aprovar créditos adicionais de sorte a contornar a regra de ouro — explica o senador Antonio Anastasia (PSD-MG), relator da Proposta à Emenda Constituição 10/2020, que deu origem ao orçamento de guerra.

Incerteza

 

O aumento do número de vítimas e a falta de uma vacina confiável a curto prazo tornam cada vez mais concreta a hipótese de a pandemia se estender até o próximo ano. O próprio Poder Executivo admite essa possibilidade no projeto (PLN 9/2020) de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Na mensagem encaminhada ao Congresso, o Palácio do Planalto destaca que o país atravessa um “contexto de elevada incerteza”.

 

Como o decreto legislativo aprovado pelo Congresso só reconhece o estado de calamidade até dezembro, o governo pretende incluir na LDO um dispositivo para mudar o método de apuração da meta fiscal em 2021. Em vez de prever um resultado objetivo, como sempre ocorre, o PLN 9/2020 autoriza a União a ajustar o valor em função de receitas e despesas realizadas ao longo do ano.

 

A conta do governo é a seguinte: se o PIB cair 4,5% em 2020 em função do “efeito coronavírus”, a receita primária de 2021 poderá sofrer redução de pelo menos R$ 51,2 bilhões. O valor seria suficiente para pagar quase dois Programas Bolsa Família, que deve consumir R$ 29,5 bilhões neste ano.

 

O projeto da LDO chegou ao Congresso em abril e desde então está parado na Comissão Mista de Orçamento (CMO), à espera de um relator. Mesmo que seja aprovado como o Executivo pretende, a flexibilização da meta fiscal resolveria apenas uma parte do problema. Isso porque o governo continuaria obrigado a respeitar o teto de gastos e a regra de ouro — a não ser que o Legislativo aprove um novo decreto que reconheça a continuidade da pandemia.

 

— Estamos gastando acima da média e com uma relativa efetividade. São medidas tomadas em alta magnitude, em pouquíssimo tempo. Mas a gente está buscando estabelecer elementos de controle. Prezaremos pela defesa do teto de gastos. Isso é uma excelente sinalização para não riscarmos nossa credibilidade. Temos que ser transparentes e saber para onde seguiremos, ajudando na conjuntura no que for necessário, mas também olhando à frente, não perdendo de vista o médio prazo — afirma o secretário de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Junior.

 

Uma das preocupações do Poder Executivo é evitar que medidas como o auxílio emergencial de R$ 600 se estendam para além da pandemia. No Senado, mais de uma dezena de projetos buscam assegurar uma renda mínima a pobres, trabalhadores rurais, informais, autônomos, extrativistas, pescadores, microempreendedores individuais e profissionais de saúde.

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Um dos projetos (PL 3.241/2020) substitui o Bolsa Família por uma renda básica permanente de R$ 600 para famílias em situação de vulnerabilidade social. Para financiar o benefício, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) quer acabar com a isenção do Imposto de Renda sobre a distribuição de lucros e dividendos de pessoas jurídicas e elevar a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido paga pelos bancos.

 

— Milhões de pessoas foram em fila buscar o auxílio emergencial. Sempre conhecemos as estatísticas da informalidade, do desemprego, do desalento. Mas o coronavírus colocou a olhos nus a vulnerabilidade de nossa sociedade. Temos de buscar formas e meios de, na medida do possível, tornar permanente este apoio — argumenta o autor do projeto.

 

O diretor-executivo da IFI, Felipe Salto, reconhece que o enfrentamento à pandemia exigiu uma resposta rápida do poder público em 2020. Mas teme que as despesas iniciadas neste ano transbordem para exercícios posteriores. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), uma renda básica de R$ 215 por brasileiro consumiria R$ 539 bilhões por ano — o equivalente a 7,4% do PIB.

 

— Sim, é o momento de gastar. Mas os gastos têm que ser temporários, porque senão o Estado brasileiro não vai aguentar o tranco. A partir de 2021, a dívida será tão alta que vamos caminhar para um quadro de muita dificuldade para conseguir reequilibrar essa relação da dívida sobre o PIB. Quais as ações? Quais as medidas? Quais as regras fiscais? Como a gente vai voltar a ter crescimento econômico? Como recuperar as receitas? — questiona.

 

O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, reconhece a legitimidade de projetos que buscam perenizar benefícios sociais. Mas defende que o assunto seja incluído na LOA, e não em iniciativas avulsas. O projeto de Orçamento para o próximo ano deve ser enviado ao Congresso até o dia 31 de agosto.

 

— A resposta à pandemia meio que foi interpretada como uma espécie de salvo conduto: pode gastar à vontade. Acho que isso foi um erro. Faltou fazer contas. Qualquer discussão sobre a prorrogação de alguma coisa mais permanente, uma renda básica universal ou algum retorno nos programas de assistência social, já deveria estar sendo feita dentro do Orçamento de 2021. Se formos discutindo uma de cada vez, não vai fechar nunca, porque quase todas são legítimas — afirma.

Gastos

 

De acordo com o portal Siga Brasil, mantido pelo Senado, o Poder Executivo gastou R$ 286,4 bilhões dos R$ 509,6 bilhões autorizados para o enfrentamento da covid-19 — o equivalente a 56,2%. A maior parte dos recursos foi alocada para o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, com 65,8% do dinheiro liberado. Mas outros programas tiveram execução superior a 50%. É o caso da abertura de crédito para pequenas e médias empresas (58,2%) e da compensação pela queda nos repasses dos Fundos de Participação dos Estados e dos Municípios (61,2%). O dado leva em conta despesas realizadas até 30 de julho.

 

Caso o governo federal hipoteticamente reduzisse o ritmo de execução dos créditos extraordinários para o combate à pandemia, o impacto sobre o deficit e a dívida seria menor. Mas, de acordo com Felipe Salto, o endividamento público é uma “resposta global e inevitável” ao coronavírus, uma vez que “só o Estado tem condições de reagir” a uma crise desse porte.

 

— Acredito que o volume autorizado é bastante significativo. O deficit vai crescer e a dívida, também. Mas isso era uma coisa esperada. E qual vai ser o plano de ajuste? O teto de gastos é uma medida importante, mas não resolve sozinho. Provavelmente, vai ser necessário algum aumento de carga tributária. Mas não podemos perder de vista o controle de despesas obrigatórias, como pessoal e Previdência — destaca.

 

FONTE: AGÊNCIA SENADO

População desocupada sobe para 12,4 milhões

A população desocupada do país, entre 12 e 18 de julho, chegou a 12,4 milhões de pessoas, um pouco acima do registrado na semana anterior, quando era de 12,2 milhões. Com o resultado, a taxa de desocupação ficou em 13,1%, a mesma da semana anterior, mas acima da taxa registrada da primeira semana de maio (3 a 9 de maio) que atingiu 10,5% e quando o número desocupados era de 9,8 milhões. Os dados estão na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad covid-19) semanal, divulgada hoje (7), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Na terceira semana de julho, cerca de 6,2 milhões de pessoas (7,5% da população ocupada) estavam afastadas do trabalho por causa do distanciamento social. O número representa queda tanto em relação à semana anterior quando 7 milhões de trabalhadores (8,6%) estavam afastados quanto na comparação com a primeira semana da pesquisa, entre 3 e 9 de maio – 16,6 milhões de pessoas, o equivalente a 19,8% da população ocupada.

 

Para a coordenadora da pesquisa, Maria Lúcia Vieira, esse movimento, provavelmente, representa o retorno das pessoas ao trabalho. “Como o total de pessoas não afastadas do trabalho aumentou na terceira semana de julho, isso indica que a maioria das pessoas que estavam afastadas pelo distanciamento voltaram para o trabalho que tinham antes da pandemia”, observou.

 

De acordo com a pesquisa, na terceira semana de julho, a população ocupada do país era de 81,8 milhões. O número representa estabilidade em relação ao período anterior em que foi estimada em 81,1 milhões de pessoas e queda na comparação com a semana de 3 a 9 de maio, quando era de 83,9 milhões de pessoas.

 

Já a estimativa da população ocupada e não afastada do trabalho ficou em 72,5 milhões de pessoas, alta na comparação com o período anterior de 71 milhões e com a semana de 3 a 9 de maio, de 63,9 milhões. Segundo a pesquisa, entre essas pessoas, 8,2 milhões ou 11,3% trabalhavam remotamente. O total representa estabilidade em relação à semana anterior de 8,2 milhões ou 11,6%. Em números absolutos, o número de pessoas em home office (8,6 milhões) se manteve estável na comparação com a primeira semana da pesquisa, mas apresentou queda percentual já que, em maio, o índice atingia 13,4%.

 

O nível de ocupação de 48,% se mostrou estável na comparação com a semana anterior de 47,6% e em queda em relação à semana de 3 a 9 de maio, quando atingiu 49,4%.

 

A taxa de informalidade aproximada ficou em 32,5%, o que é um recuo em relação à semana anterior (34,0%) e à semana de 3 a 9 de maio (35,7%). A taxa de participação na força de trabalho ficou atingiu 55,2%, o que estatisticamente, segundo o IBGE, é estável se comparado à semana anterior (54,8%) e, ainda à primeira semana de maio (55,2%).

Fora da força de trabalho

 

A população fora da força de trabalho, que não estava trabalhando nem procurava por trabalho, somou 76,2 milhões de pessoas e se manteve estável em relação à semana anterior, quando alcançou 76,9 milhões, como também à semana de 3 a 9 de maio (76,2 milhões). Entre essas pessoas, a pesquisa apurou que cerca de 28 milhões de pessoas ou 36,7% da população fora da força de trabalho disseram que gostariam de trabalhar. O contingente ficou estável em relação à semana anterior (28,3 milhões ou 36,7%), mas cresceu na comparação com a primeira semana da pesquisa entre 3 a 9 de maio (27,1 milhões ou 35,5%).

 

A pandemia ou a falta de uma ocupação na localidade em que moravam foram os motivos para cerca de 18,6 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar, não procurarem uma vaga. O número correspondia a 66,4% das pessoas não ocupadas que não buscaram por trabalho e gostariam de trabalhar. O total permaneceu estável em relação à semana anterior (19,2 milhões ou 68,0%) e em comparação com a semana de 3 a 9 de maio (19,1 milhões ou 70,7%).

Saúde

 

A Pnad covid-19 estimou também que na terceira semana de julho, cerca de 3,3 milhões de pessoas ou 23,7% das que apresentaram algum sintoma da doença buscaram atendimento médico. O total ficou estável em relação à semana anterior, quando era de 3 milhões ou 21,5% e, no entanto, de queda em números absolutos mas aumento em termos percentuais, se comparado à semana de 3 a 9 de maio. Naquele momento somaram 3,7 milhões ou 13,7%. De acordo com a pesquisa, cerca de 85% destes atendimentos foram na rede pública de saúde.

 

Na semana de 12 a 18 de julho, os números indicam que 13,8 milhões de pessoas ou 6,5% da população do país apresentavam pelo menos um dos 12 sintomas associados à síndrome gripal investigados pela pesquisa, que são febre, tosse, dor de garganta, dificuldade para respirar, dor de cabeça, dor no peito, náusea, nariz entupido ou escorrendo, fadiga, dor nos olhos, perda de olfato ou paladar e dor muscular. Estatisticamente, isso representa que ficou estável frente a semana anterior de 13,9 milhões ou 6,6% da população e de queda em relação ao período de 3 a 9 de maio, 26,8 milhões ou 12,7%.

 

Entre 12 e 18 de julho, 9,3% daquelas que tiveram sintomas de síndrome gripal, ou seja, 302 mil pessoas, procuraram atendimento em ambulatório ou consultório privado ou ligado às Forças Armadas. Segundo a pesquisa, o contingente representa estabilidade tanto na comparação com a semana anterior (315 mil ou 10,6%), como em relação à primeira semana de maio (320 mil ou 8,7%).

 

A Pnad-covid-19 mensal apontou que cerca de 912 mil pessoas procuraram atendimento em hospital, público, particular ou ligado às Forças Armadas na semana entre 12 e 18 de julho. O resultado representa 6,6% daquelas que apresentaram sintomas e ficou estatisticamente estável na comparação com a semana anterior, quando eram 914 mil pessoas ou 6,6% e também frente a semana de 3 a 9 de maio com 1,1 milhão ou 4,0%. Entre os que procuraram atendimento, 135 mil (14,8%) foram internados, o que também é uma estabilidade frente a semana anterior (124 mil ou 13,6%) e a semana de 3 a 9 de maio (97 mil ou 9,1%)

 

FONTE: AGÊNCIA BRASIL