Juros consomem quase 12% da renda das famílias, diz pesquisa da FecomercioSP

Cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) semestral e 11,79% da renda das famílias ficaram comprometidos com pagamento de juros no primeiro semestre de 2021, aponta estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Foram R$ 233,5 bilhões no período. Em termos comparativos, o montante é equivalente a 73% do recurso injetado via auxílio emergencial no ano passado.

 

Altamiro Carvalho, assessor econômico da federação, disse ontem (10) que, depois do aluguel, o gasto com juros é o segundo item entre as maiores despesas dos brasileiros. “O juro é disseminado nas despesas de uma forma que as pessoas não têm consciência do volume que esse recurso representa no orçamento doméstico”, afirmou. O gasto com juros ultrapassa, por exemplo, os custos totais, por ano, com educação, serviços e vestuário.

 

A análise aponta, ainda, que “o auxílio distribuído pelo governo federal, que poderia incentivar ainda mais o consumo das famílias, beneficiando de maneira homogênea outros setores da economia, foi bastante comprometido com a quitação destas taxas, canalizadas pelo sistema financeiro”. O estudo quantifica o volume destinado ao pagamento de juros dos empréstimos obtidos em operações de crédito livre nos seis primeiros meses de 2019, 2020 e 2021.

 

“Se metade disso [montante de juros] não tivesse sido pago, você injetaria na economia recursos para consumo das famílias, daria condições de consumo, de uma forma muito impactante que poderia, obviamente, estimular a produção, iria para a indústria, iria girar o nível da atividade econômica como um todo”, destacou Carvalho. Ele disse que o pagamento de juros, por sua vez, vai para as instituições financeiras e volta para o mercado também na forma de juros.

 

Quitação

 

No item pessoa jurídica, o estudo indica que as empresas utilizaram R$ 90,2 bilhões para quitação de juros. O valor é 8,2% acima do registrado em 2020. A soma representa 2% do PIB semestral. O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), por exemplo, liberou R$ 37,5 bilhões em recursos para mais de 500 mil negócios em 2020. Nesse sentido, o montante de juros pagos pelas pessoas jurídicas, no primeiro semestre deste ano, é quase 2,5 vezes maior que o volume destinado pelo programa.

 

A FecomercioSP aponta, também, que a inadimplência entre as famílias está controlada. O valor dos empréstimos atrasados há mais de 90 dias teve queda de 14,4% no primeiro semestre de 2021, ficando em R$ 54,4 bilhões. A taxa de inadimplência era de 4,8% nos primeiros seis meses de 2019, 5,3% em 2020 e ficou em 4,1% de janeiro a junho de 2021.

 

Em relação ao crédito neste ano, considerando o período analisado, “tanto as concessões quanto o saldo das operações de crédito para pessoa jurídica avançaram, no comparativo anual, 1,2% e 5,1%, respectivamente”, aponta em nota a federação.

 

Para ela, “o crédito no Brasil impõe um custo elevado tanto para os lares como para as empresas, retirando da sociedade quase 8% do PIB semestral, a título de pagamento de juros”. A entidade acredita que o desequilíbrio nas contas públicas é o principal fator que explica os juros elevados.

 

AGÊNCIA BRASIL

Grande Prêmio de Fórmula 1 gerará R$ 810 milhões para o estado de São Paulo

A realização do Grande Prêmio de Fórmula 1 no Autódromo de Interlagos, na capital paulista, deve gerar um impacto financeiro de R$ 810 milhões e 8,5 mil empregos temporários. Com autorização para receber 100% de sua capacidade de público, o autódromo terá 150 mil espectadores para a corrida de domingo (14). Todos os ingressos foram vendidos antecipadamente, principalmente para pessoas não residentes na cidade (77%).

 

Durante o anúncio feito ontem (10) na capital paulista, o governador João Doria destacou o papel estratégico do evento, que marca o retorno dos grandes eventos internacionais na cidade. Com a programação do GP começando na sexta-feira (12) e o feriado de segunda (15), é esperada que a permanência dos turistas na cidade seja, em média, superior a quatro dias, o que aumenta o consumo dos mais diversos produtos e serviços, com um gasto diário por turista passando de R$ 756 para R$ 817.

 

Segundo Doria, o evento vai exigir todos os protocolos contra a covid-19: além do uso obrigatório de máscara, o público deve apresentar comprovante de vacina para acessar o autódromo. Se o esquema vacinal não estiver completo, obrigatoriamente será necessário apresentar teste recente contra o coronavírus – PCR realizado até 48 horas ou o antígeno (teste rápido) feito até 24 horas antes do evento. O Autódromo de Interlagos deverá dispor de álcool em gel em locais de fácil acesso.

 

Para garantir a segurança, haverá uma operação especial de patrulhamento com cerca de 5 mil policiais de diferentes unidades tanto no autódromo quanto em seu entorno. O policiamento em toda a capital paulista será intensificado durante o evento com 1,9 mil viaturas, 250 cavalos, 50 cães, 40 drones e 3 helicópteros Águia do Comando de Aviação da instituição.

 

AGÊNCIA BRASIL

Transportes têm o maior impacto na alta da inflação em outubro, segundo IBGE

A alta de 1,25% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em outubro, com acumulado de 10,67% em 12 meses, foi pressionada pelo grupo transportes. A variação desse grupo chegou a 2,62%, impactando em 0,55 ponto percentual o índice do mês.

 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os combustíveis subiram 3,21%, com a gasolina (3,10%) tendo o maior impacto individual no índice do mês, de 0,19 ponto percentual. Essa é a sexta alta seguida no preço da gasolina, que acumula aumento de 38,29% no ano e de 42,72% em 12 meses.

 

O gerente do IPCA, Pedro Kislanov, destaca que tanto o preço da gasolina como o da energia elétrica, que está na bandeira preta, de escassez hídrica, desde setembro, têm impacto indireto no custo de outros grupos.

 

“Os preços de muitos componentes, como vestuário e artigos de residência, têm sido influenciados pela alta dos combustíveis, alta da energia elétrica, pela depreciação cambial. Então, a gasolina e a energia elétrica, além de ter um efeito no IPCA diretamente, têm um efeito indireto sobre outros, principalmente sobre bens industriais. De fato, houve um espalhamento maior este mês, principalmente por conta dos não alimentícios”, explica o gerente.

 

A energia elétrica residencial teve alta de 6,47% em setembro e de 1,16% em outubro, com acumulado de 19,13% no ano e de 30,27% em 12 meses. Outro peso grande no custo para as famílias é o gás de botijão, que subiu 3,67% em outubro, com alta de 33,34% no ano e de 37,86% em 12 meses. “Foi o 17º mês consecutivo de alta. Temos alta desde junho de 2020 no gás de botijão, acumulando 44,77% de alta no período”, disse Kislanov.

 

Grupos

 

Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE subiram em outubro. No grupo transportes, o óleo diesel subiu 5,77%, o etanol 3,54% e o gás veicular ficou 0,84% mais caro. Já as passagens aéreas tiveram alta de 33,86% no mês. Segundo Kislanov, também influenciadas pela alta do dólar e dos combustíveis, além da melhora na pandemia da covid-19.

 

“A depreciação cambial e a alta dos preços dos combustíveis, em particular do querosene de aviação, têm contribuído com o aumento das passagens aéreas. A melhora do cenário da pandemia, com o avanço da vacinação, levou a um aumento no fluxo de circulação de pessoas e no tráfego de passageiros nos aeroportos. Como a oferta ainda não se ajustou à demanda, isso também pode estar contribuindo com a alta dos preços”, explica.

 

Também acelerou em outubro o transporte por aplicativo, que ficou 19,85% mais caro, depois de subir 9,18% em setembro. Os automóveis novos subiram 1,77% e os usados tiveram alta de 1,13%.

 

Alimentos e bebidas

 

O grupo alimentos e bebidas subiu 1,17% no mês, perfazendo a segunda maior contribuição na alta do IPCA, com 0,24 ponto percentual. As principais altas foram no preço do tomate (26,01%) e da batata-inglesa (16,01%), que aceleraram a alimentação no domicílio para 1,32%. Também ficaram mais caros o café moído (4,57%), o frango em pedaços (4,34%), o queijo (3,06%) e o frango inteiro (2,80%).

 

Caíram o preço do açaí (8,64%), do leite longa vida (1,71%) e do arroz (1,42%). Porém, o gerente da pesquisa destaca que, apesar da queda, o arroz teve uma das maiores altas do ano passado.

 

“O arroz tem tido uma queda nos preços provocada por uma menor demanda interna, mas essa queda acaba sendo limitada pelo aumento no volume das exportações. No ano, a gente tem uma queda acumula de 12,24%, mas o arroz subiu 76% em 2020”, disse.

 

O grupo habitação subiu 1,04% em outubro, vestuário teve aumento de 1,80%, artigos de residência variaram 1,27%, educação subiu 0,06% e despesas pessoais 0,75%.

 

Regiões

 

Todas as regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE tiveram alta no mês. As maiores variações foram em Vitória e Goiânia, ambos com alta de 1,53%. Em Vitória, as principais influências foram da taxa de água e esgoto (11,33%) e da energia elétrica (3,35%). Em Goiânia, pesaram a energia elétrica (5,34%) e a gasolina (4,24%). A menor variação de outubro foi verificada em Belém (0,64%), com a queda no preço do açaí (8,77%) e da energia elétrica (1,23%).

 

INPC

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para as famílias com renda entre um e cinco salários mínimos, teve alta de 1,16% em outubro. No ano, o indicador acumula alta de 8,45% e, em 12 meses, de 11,08%. Para esse indicador, os produtos alimentícios subiram 1,10% no mês, acima do 0,94% observado em setembro. Já os não alimentícios ficaram 1,18% mais caros, depois de registrar 1,28% no mês anterior.

 

A pesquisa de preços é feita nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.

 

Combate à mudança climática é caminho sem volta, afirma presidente da CNI

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, acompanha em Glasgow, na Escócia, a segunda semana de negociações na 26ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-26).

 

A expectativa do líder industrial é que os negociadores cheguem a um acordo sobre o estabelecimento de um mercado global de carbono, concluindo assim as regras para implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris.

Andrade ressalta que o atingimento das metas de todos os países está entrelaçado: para que aqueles em desenvolvimento consigam cumprir a meta de redução de emissões, as economias desenvolvidas precisam honrar o compromisso assumido no Acordo de Paris de destinar US$ 100 bilhões anuais para financiar iniciativas como enfrentar o desmatamento.

“Recursos são fundamentais tanto para investimentos em redução das emissões quanto para projetos de adaptação à mudança climática”, afirmou Robson de Andrade à Agência de Notícias da Indústria. Nessa entrevista, o presidente da CNI destaca, ainda, que a briga por estancar a mudança climática é um caminho sem volta. Confira a entrevista completa.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA  – O que o senhor espera das negociações durante a COP-26?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Minha expectativa e a da indústria brasileira como um todo é que sejam concluídas as regras para implementação do mercado global de carbono e também da destinação de recursos a projetos de redução de emissões de gases de efeito estufa e de adaptação às mudanças climáticas em países em desenvolvimento. Sei que essas negociações não são simples, mas é fundamental forte vontade política de todos os países para fechar esses acordos.

Independentemente do resultado da COP-26, o combate à mudança climática é um caminho sem volta, não há escolha. Acredito que o empenho dos países em prol da sustentabilidade será cada vez mais intenso. A agenda climática é urgente e já podemos sentir os efeitos da mudança do clima em nossas vidas e também nos negócios. Eventos extremos como escassez hídrica e inundações são cada vez mais intensos e frequentes, inclusive no Brasil. Por isso, é fundamental concluir aqui na COP-26 esse pacote completo, com regras para esse mercado e recursos, para que traga resultados efetivos já nos próximos anos.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – Alguns segmentos da sociedade criticam o fato de se pedir recursos para a agenda ambiental. O que o senhor pensa sobre isso?

ROBSON ANDRADE – É preciso ter recursos para viabilizar projetos, em especial de redução de desmatamento, em países em desenvolvimento. Eles são fundamentais para que essa agenda seja, de fato, sustentável e reduza as desigualdades entre os países. Inclusive, está estabelecido no Acordo de Paris o princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, que determina que os esforços para a redução devem envolver todos os países, mas de forma que os países desenvolvidos ofereçam uma contrapartida financeira para que países em desenvolvimento consigam atender seus compromissos de redução das emissões. Precisamos fazer valer o que está no papel.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – Como avalia o aumento das metas de redução das emissões do Brasil anunciadas na COP-26?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE – É positivo. Se o Brasil tem condições de aumentar seus esforços para reduzir as emissões, precisa fazê-lo e negociar para que os demais países também o façam, sobretudo os mais desenvolvidos.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – O setor industrial brasileiro está de fato comprometido com a agenda climática?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE  – Com certeza. O setor industrial vê a agenda do clima como uma grande oportunidade para o Brasil. Por isso, a indústria brasileira está presente na COP-26 para mostrar que tem feito o dever de casa na agenda de sustentabilidade e para atrair investimentos. O país é um dos líderes mundiais em aspectos cruciais da sustentabilidade, como elevada participação de renováveis na matriz energética (48%), com forte presença dos biocombustíveis e grande potencial no setor de hidrogênio verde, e enorme potencial no uso sustentável de suas florestas.

Reduzir emissões e zerar o balanço de carbono tem se tornado prioridade de vários setores. Muitas empresas brasileiras já se comprometeram a zerar suas emissões líquidas até 2050. O desafio é grande, mas estamos todos imbuídos desse espírito de cooperação e trabalho em prol da sustentabilidade e redução das emissões de gases de efeito estufa

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – Como o setor industrial tem atuado para a conservação ambiental?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Há muito tempo, a indústria brasileira assumiu a responsabilidade com a agenda ambiental e tem trabalhado para se tornar referência no uso eficiente dos recursos naturais e aproveitamento das oportunidades associadas à economia de baixo carbono. A sustentabilidade está no nosso DNA, tanto na busca eficiência quanto na economia de recursos para ser mais competitiva e atender às exigências do mercado internacional. O mundo cobra do Brasil responsabilidade ambiental, e o setor privado tem interesse em se manter alinhado com os acordos internacionais.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – A agenda econômica não seria conflitante com os interesses da conservação ambiental?

ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Não é possível mais olharmos a sustentabilidade de forma fragmentada, como se economia, sociedade e meio ambiente tivessem interesses divergentes. Precisamos ver que esses três aspectos se complementam e convergem. Um alimenta o outro.

Por exemplo, com investimentos em negócios sustentáveis e em agendas como a da bioeconomia, é possível aumentar o valor da floresta em pé, por exemplo, e fazer com que a própria sociedade conserve o meio ambiente ao ver efetivamente que a conservação ambiental gera riquezas e emprego e renda para suas comunidades.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA – O que é preciso para o país avançar mais na agenda de sustentabilidade e, de fato, converta o seu potencial em riquezas para sua população?

 

ROBSON BRAGA DE ANDRADE – A pauta ambiental deve compor uma estratégia de Estado, que vá além de planos de governo e que esteja integrada a uma proposta de desenvolvimento socioeconômico do país. Sem isso, haverá apenas voos de galinha e as empresas, sobretudo as de menor porte, terão sua competitividade comprometida. Em guia que traz os principais financiadores para projetos que contribuem para a redução dos efeitos da mudança do clima, a CNI informa que nos últimos anos a América Latina e Caribe ficaram com 4,5% desses recursos – sendo o Brasil com parcela ainda menor – enquanto a Ásia recebeu 38%. Precisamos urgentemente de uma estratégia de longo prazo, inclusive para atrair mais recursos desses fundos.