Brasil pode se transformar na “roça do mundo” se abrir mão da indústria manufatureira

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, externou na quarta-feira (20) a grande insatisfação da entidade com as menções depreciativas que o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Carlos Von Doellinger, fez à indústria manufatureira nacional, em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico.

 

Falando também em nome do Fórum Nacional da Indústria (FNI), que congrega cerca de 70 associações setoriais, Robson Andrade contesta a afirmação de Doellinger de que “nosso caminho não é indústria manufatureira, a não ser aquela ligada ao beneficiamento de produtos naturais, minérios”.

 

“Essa posição do presidente do Ipea, de que o Brasil deveria focar apenas na agricultura e na mineração, abrindo mão da indústria de manufatura, demonstra que ele, lamentavelmente, não tem a mínima noção da importância deste segmento industrial para a produtividade e o desenvolvimento dos demais setores da economia, e como dinamizador da economia nacional”, afirma o presidente da CNI.

 

Para ele, a opinião de Doellinger contém um equívoco gravíssimo e revela a ignorância daquele que é responsável pelo principal órgão público de estudos e análises econômicas, o qual deveria fazer análises técnicas, aprofundadas e isentas.

 


“É lamentável que ele não tenha a mínima noção da importância estratégica da indústria para o desenvolvimento do país”

 


“Não estou subestimando a importância dos setores agrícola e mineral para a economia nacional, mas o fato é que o Brasil se transformaria em uma roça, a fazenda do mundo, exportando apenas commodities e matérias-primas, assim como empregos de qualidade, para as economias mais desenvolvidas”, afirma Robson Andrade.

 

Ele compara a afirmação do presidente do Ipea à feita pelo Visconde de Itaboraí, no longínquo século 19, de que ao Brasil bastava exportar café, na tentativa de impedir o Barão de Mauá de levar adiante o esforço pioneiro de industrialização do Brasil.

 

Importância da indústria manufatureira

 

“Embora o presidente do IPEA demonstre não saber, a indústria nacional viabiliza o desenvolvimento de serviços de alto valor agregado, como pesquisa científica, design, logística, equipamentos e maquinários, entre vários outros”, afirma o presidente da CNI.

 

“Isso significa que tanto a agricultura brasileira, que está entre as mais competitivas do mundo, quanto o ágil e cada vez mais sofisticado setor de comércio e serviços, dependem de uma indústria forte e moderna operando no país, sobretudo a de manufatura”, acrescenta.

 

Robson Andrade destaca que, apesar de representar cerca de 21% do PIB nacional, o setor industrial é responsável pelo recolhimento de 33% dos impostos federais e por 31% da arrecadação previdenciária patronal.

 

Além disso, segundo ele, o segmento responde também por 70% das exportações brasileiras de bens e serviços e por 69% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento, insumo indispensável para a competitividade dos demais segmentos econômicos, inclusive do agronegócio.

 

De acordo com levantamento da CNI, apenas a indústria de transformação nacional é responsável por 25% pela arrecadação de tributos federais e por 23% da arrecadação previdenciária patronal. Responde também por 50,6% das exportações brasileiras de bens e serviços e por 65% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

 

Em função de sua extensa cadeia de fornecedores, cada R$ 1 produzido na indústria de transformação gera R$ 2,40 na economia nacional como um todo. Nos demais setores, o valor é menor: R$ 1,66 na agricultura e R$ 1,49 nos segmentos de comércio e serviços.

 

“A indústria nacional também paga salários muito superiores aos demais segmentos. Os trabalhadores industriais com ensino superior completo, por exemplo, ganham 31,7% a mais do que a média do país, contribuindo de forma expressiva para o aumento da renda per capita dos brasileiros”, pontua Robson Andrade.

 

Ele ressalta, que, atualmente, a indústria de transformação emprega, sozinha, cerca de 6,8 milhões de trabalhadores no país – o equivalente a 70% dos 9,7 milhões de postos de trabalhos gerados pela indústria como um todo.

 

País forte = indústria forte

 

Robson Andrade observa, ainda, que, enquanto o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, a Austrália, citada como referência por Carlos Von Doellinger, ocupa apenas o 13º lugar neste ranking. “Nosso objetivo deve ser o de ficar entre as cinco maiores economias globais. Se o país optar por seguir o modelo australiano, como defende o presidente do Ipea, iremos, inevitavelmente, andar para trás”, afirma o presidente da CNI.

 

Andrade defende que o país não deveria perder energia nem tempo discutindo teorias ultrapassadas. Segundo ele, a discussão necessária e urgente, que agrega e impede o fechamento de fábricas e o desemprego em massa, deve ser a aprovação de uma reforma tributária ampla, bem como de marcos regulatórios que tragam segurança jurídica e possibilitem a atração de investimentos ao país.

 

“Ao invés de desprezar a indústria, como fez o presidente do Ipea, o que o Brasil precisa é fortalecer o setor industrial, para que ele seja cada vez mais dinâmico e inovador, com vistas a superar a mais grave crise sanitária, econômica e social já vivenciada pelo país”, afirma Andrade.

 

“Não existe país forte sem indústria forte”, conclui Robson Andrade.

 

Fonte: CN

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