Por que Oxford é um dos maiores centros de inovação do Reino Unido?

 

Por: Ariadne Sakkis, de Londres

Da Agência de Notícias da Indústria

 

Seria estranho se a referência de Vale do Silício do Reino Unido fosse aceita sem protestos. A bem da verdade, com mais de 900 anos de história, a mais antiga universidade de língua inglesa em atividade admite poucas comparações.

 


“Não me leve a mal, aprendemos bastante com o Vale do Silício, mas fazemos as coisas à nossa maneira”, esquiva-se David Gann, vice-chanceler de Desenvolvimento e Assuntos Externos da Universidade de Oxford. Diante dos números impressionantes de resultados, investimentos e braços de atuação, essa maneira de ser envolve organização, estratégia e ambição. 

 


 

Em 2022, o caixa da universidade contou com 2,77 bilhões de libras, cerca de R$ 17 bilhões de reais. As fontes variam: investimento público, filantropia, programas de bolsas, parcerias com indústrias, royalties e por aí vai.

 

Vista de fora – e, francamente, mesmo de dentro – a estrutura física e de governança de Oxford é gigantesca, portanto, complexa. São 39 escolas independentes, espalhadas por toda a cidade, com orçamentos próprios e autonomia administrativa. Todas, no entanto, respondem às regras estabelecidas pelo conselho acadêmico formado por representantes de cada uma. O conceito de campus, consolidado nas instituições de ensino superior brasileiras, não se aplica em Oxford.

 

Por que Oxford é um dos maiores centros de inovação do Reino Unido?

Ao todo, cerca de 6 mil professores e pesquisadores estruturam a educação de mais de 26 mil alunos de graduação e pós-graduação, metade deles, estrangeiros. A administração acadêmica conta com 2 mil funcionários.

 

Mesmo situada em um município relativamente pequeno – Oxford tem pouco mais de 162 mil habitantes – as escolas estão espalhadas pelo território, fazendo com que a instituição lide com pelo menos 6 órgãos governamentais locais diferentes.

 

Esse contexto importa porque dá pistas de como é árdua a missão de organizar o ecossistema. E, no entanto, as coisas funcionam. Seja pelo passivo de experiência de 900 anos, seja pela tradição metódica do reino ou pela ambição de não deixar de ser a melhor universidade do mundo, as coisas funcionam.

 

Entre 2018 e 2019, as atividades de Oxford tiveram um impacto de 15,7 bilhões de libras na economia britânicaDesse total, 7,9 bilhões são produtos da pesquisa e da produção de conhecimento. Segundo dados da instituição, a cada 1 libra investida em pesquisa na universidade são geradas 10,3 libras para a economia do país.

 

Oxford conta com 39 escolas independentes espalhadas pelo município

O precioso caso da vacina contra a covid-19

 

Com qualquer professor, funcionário ou estudante que se converse em Oxford, impacto é uma  palavra frequente. Quando a pandemia de coronavírus fechou fronteiras, esvaziou as ruas e começou a levar as primeiras das 6,8 milhões de vidas perdidas no mundo, a Universidade de Oxford rapidamente entrou no circuito para desenvolver uma vacina.

 

À frente do desafio, Sarah Gilbert, professora de Vacinologia do Instituto Jenner. O trabalho não começou do zero, pelo contrário: 35 anos de experiência com outras variedades de coronavírus deram um norte claro.

 

Em 100 dias, Oxford apresentou a proposta da vacina. Demonstrada a segurança e a possibilidade de doses serem produzida em escala, a preocupação da universidade era garantir que a solução chegasse ao maior número possível de pessoas, sobretudo em países de média e baixa renda.

 

As pesquisas realizadas em Oxford ajudaram a desenvolver a vacina para o coronavírus

 

“A vacina teria de ser vendida a preço de custo em países pobres. Parte dos valores da venda para países ricos deveria voltar para a universidade financiar pesquisas. No primeiro ano, não houve nenhum centavo de lucro. As patentes não eram tão amarradas. Daí você imagina como foi difícil negociar com os laboratórios”, explica Gann. O contrato feito com a Astrazeneca foi fechado com essas e muitas outras cláusulas das quais os acadêmicos não abriam mão.

 


 

A estimativa é que a vacina tenha ajudado a evitar 6,3 milhões de mortes. Até 2022, 180 bilhões de doses foram entregues no mundo, sendo 2/3 em países em desenvolvimento. O Brasil foi um dos principais destinos.

 

“Somos a principal universidade de ciências da saúde do mundo e se fomos capazes de entregar uma solução em tão pouco tempo, isso se deve a um histórico de investimentos em pesquisa, na capacidade humana que temos aqui, na estabilidade para os pesquisadores e uma realização do nosso senso de propósito”, conclui Gann.

 

Gann apresentou dados do ecossistema de Oxford para a delegação brasileira

Mestres (e doutores) em negócios

 

 

Uma das principais diferenças entre universidades públicas brasileiras e Oxford é que os britânicos não só permitem como estimulam que pesquisadores se tornem empresários.

 

Quando um projeto de pesquisa de um demonstra potencial de mercado, há toda uma rede institucional de apoio para a formação, o desenvolvimento e a aceleração do que eles chamam de spin-outs. Se as oportunidades partem de alunos, as empresas, aí sim chamadas de start-ups, também contam com instrumentos de fomento para crescer e escalar. Em 2021, Oxford contou com 1,1 bilhão de libras – cerca de R$ 6,7 bilhões – para venture capital.

 

 

Um dos laboratórios de vacina é o Jenner Institute, Old Road Campus, Headington Laboratorie

O que é bom sempre pode melhorar

 

 

Oxford tem investido fortemente em biotecnologia e energia, principalmente na área de fusão nuclear, que busca criar energia limpa a partir do calor gerado na fusão entre átomos. A tecnologia ainda precisa avançar muito antes de ser uma fonte viável. Quando isso acontecer, Oxford pretende por seu carimbo nessa história. “Precisamos de talento, investimento, integração com a indústria, mas mais que tudo, enxergar lá na frente. Queremos ser o maior cluster de fusão da Europa”, explica Gann.

 

Não fossem resultados já impressionantes, a universidade tem uma meta mais ambiciosa ainda: contribuir para que o Reino Unido tenha empresas com valor trilionário de mercado. “Vendemos nossas empresas muito cedo. Podemos fazer melhor do que isso”, arremata Gann.

 

Por que Oxford é um dos maiores centros de inovação do Reino Unido?

Em 2015, a universidade teve 4 spinouts. Em 2021, o número de novas empresas nascidas de pesquisas saltou para 20. Parte da explicação para isso está no aumento do investimento no período, passando de 125 milhões de libras anuais para 600 milhões. Recentemente, a universidade inaugurou uma nova bioaceleradora, onde pequenas empresas podem utilizar instalações e laboratórios de última geração.

Fonte: CNI

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