Indústria vive desafio para manter crescimento em tempos de Covid-19, afirma coordenador

A pandemia de covid-19 entra no segundo ano e a indústria sul-mato-grossense, apesar do momento econômico atípico, conseguiu manter o crescimento em 2020. Não têm sido poucos os desafios, que passam pela escassez de matéria prima ao escoamento da produção. E, apesar das barreiras, o setor tem oportunidades de crescimento. Entre os fatores decisivos para manter o setor aquecido esteve o auxílio emergencial, que manteve o consumo. Essas e outras questões são tratadas pelo coordenador da Unidade de Economia da FIEMS (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul) Ezequiel Rezende Martins, que vislumbra um futuro promissor para o Estado.

 

FIEMS – Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelo setor industrial do estado decorrentes da pandemia?

 

Ezequiel Rezende Martins – Uma das principais dificuldades, senão a principal, além de todo o esforço de adaptação e de entendimento do novo contexto imposto pela pandemia, foi a desarticulação ocorrida em inúmeras cadeias de suprimento. Muitas matérias primas tiveram a produção descontinuada, o que acarretou em uma forte pressão de custos e dificuldades de produção. Muitas já se aproximam ou mesmo já garantiram a regularidade de fornecimento, porém os preços se encontram em patamares mais elevados.

 

FIEMS – Foi feita alguma estimativa da perda econômica provocada pela crise da pandemia?

 

Ezequiel Rezende Martins – Na indústria, passado aquele primeiro momento da pandemia nos meses de março e abril de 2020, a atividade se recuperou de forma acelerada nos meses seguintes. E diversas pesquisas de órgãos oficiais como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e mesmo as nossas sondagens realizadas pela FIEMS e CNI apontam que, no contexto geral da atividade industrial, as perdas foram praticamente zeradas já no fim do ano passado. Claro que o setor industrial é bastante heterogêneo e, mesmo dentro de um segmento em particular, é comum encontrar empresas com desempenhos diferentes. No geral, contudo, o que se viu no segundo semestre do ano passado foi uma forte recuperação da indústria no Mato Grosso do Sul e no Brasil, o que permitiu zerar os prejuízos causados pela pandemia naqueles primeiros meses.

 

FIEMS – Em Mato Grosso do Sul, segundo os levantamentos divulgados pelo Radar Industrial da FIEMS, a indústria fechou 2020 em alta. A que o senhor atribui esse resultado positivo?

 

Ezequiel Rezende Martins – Tivemos um grande desempenho em 2020. No ano passado a indústria foi responsável pela abertura de quase 7 mil novos postos formais de trabalho, o que representou praticamente metade de todo o saldo de criação de empregos que tivemos aqui no estado. E quando olhamos para os segmentos que mais contribuíram para esse resultado, vimos que houve uma contribuição muito forte das atividades ligadas, principalmente, a indústria de alimentos e bebidas e, em especial, nos segmentos frigoríficos e de óleos vegetais. Também contribuíram para esse resultado os segmentos de celulose, construção e sucroenergético. O que vimos em comum na maior parte dessas atividades foi a sustentação dada à demanda agregada por meio das transferências de renda. O auxílio emergencial foi responsável por uma renda disponível para o consumo superior a R$ 295 bilhões ao longo de sua vigência até o final do ano passado. Só aqui no estado a soma de todas as parcelas pagas nesse período ficou próximo de R$ 3 bilhões. Ou seja, foi um recurso importante para a parcela mais vulnerável da população e que foi, na sua quase totalidade, destina ao consumo de produtos alimentícios. Houve também no último ano, assim como já vem acontecendo há alguns anos, uma contribuição significativa das exportações. Enfim, a garantia mínima de uma renda que serviu para dar segurança alimentar à população mais necessitada e também as exportações foram fatores decisivos para o excelente resultado da atividade industrial de Mato Grosso do Sul no ano de 2020.

 

FIEMS – Quais serão as oportunidades de negócios em MS, daqui para frente. Qual o tipo de indústria que mais cresce no Estado? É possível classificar?

 

Ezequiel Rezende Martins – Mato Grosso do Sul se apresenta com um futuro bastante promissor para os próximos anos. E a atividade industrial seguirá como um importante vetor, contribuindo diretamente para o crescimento e fortalecimento da economia estadual. Nesse contexto é possível destacar a consolidação e expansão de setores ligados a toda cadeia florestal do eucalipto com a produção de celulose, madeiras laminadas e outros produtos. Como também as florestas voltadas para a produção de borracha e látex, por exemplo. No segmento alimentício temos um grande parque industrial e novos investimentos sendo feitos para o atendimento da crescente demanda por proteína animal e aqui falamos não apenas da carne bovina, mas principalmente das carnes suína, aves e peixes.

 

Além das indústrias processadoras de soja e milho, com fabricação de óleos, proteínas texturizadas, farelos, rações, ácidos orgânicos e químicos destinados à indústria alimentícia. E, claro, também do etanol de milho que deve se tornar uma alternativa viável com a crescente expansão que a produção do grão vem demonstrando aqui no estado. Há também a cadeia sucroenergética já consolidada como uma das mais importantes atividades e, ainda, um imenso potencial para geração de energia limpa e renovável por diferentes fontes. Enfim, esses são só alguns exemplos das inúmeras oportunidades que vão se abrindo para os próximos anos no Mato Grosso do Sul. E, por fim, nos próximos 5 a 10 anos devemos ter boas possibilidade relacionadas ao corredor Bioceânico e a Nova Ferroeste. A efetiva operacionalização desses novos eixos de transporte e desenvolvimento têm o potencial de transformar completamente a logística e promover o surgimento novos negócios não só em Mato Grosso do Sul, mas em toda região Centro-Oeste.

 

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